quinta-feira, dezembro 14, 2006

Dói..






...
..
.

terça-feira, dezembro 12, 2006

RIMA LVI

Hoy como ayer, mañana como hoy,
¡y siempre igual!
Un cielo gris, un horizonte eterno
y andar... andar.

Moviéndose a compás, como una estúpida
máquina, el corazón.
La torpe inteligencia del cerebro,
dormida en un rincón.

El alma, que ambiciona un paraíso,
buscándole sin fe,
fatiga sin objeto, ola que rueda
ignorando por qué.

Voz que, incesante, con el mismo tono,
canta el mismo cantar,
gota de agua monótona que cae
y cae, sin cesar.

Así van deslizándose los días,
unos de otros en pos;
hoy lo mismo que ayer...; y todos ellos,
sin gozo ni dolor.

¡Ay, a veces me acuerdo suspirando
del antiguo sufrir!
Amargo es el dolor, ¡pero siquiera
padecer es vivir!

Gustavo Adolfo Bécquer

terça-feira, novembro 28, 2006

lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

Mário Cesariny

terça-feira, outubro 10, 2006

Amelie mix

;õ)
Guilty

Is it a sin? Is it a crime?
Loving you dear like I do
If it is a crime then I'm guilty,
guilty of loving you.

Maybe I'm wrong, dreaming of you
Dreaming the lonely night through
If it is a crime then
I'm guilty, guilty of dreaming of you

What can I do? What can I say?
I've taken the blame
You say you're through, you'll go your way.
But I'll always wait for you just to say

Maybe I'm right, Maybe I'm wrong,
Loving you dear like I do.
If it's a crime then I'm guilty,
If it's a crime then I'm guilty, guilty of loving
you

Russ Columbo

segunda-feira, outubro 09, 2006

Conto (quase) religioso

Era uma vez uma mulher de nome Maria,
que todos vieram a conhecer por
nossa senhora; senhora de todos nós.
Reza a estória que teve um filho sem pai;
filho de um senhor, talvez um dos Espírito Santo, contava ela.
Maria segurou-o em seus braços enquanto pôde;
cuidou de o educar e proteger dos olhares mais tortos.
O puto cresceu, deu-lhe uma fezada
e foi pregar para outra freguesia;
diz-se que conheceu um tipo chamado João
e acabou no espeta.
Maria, continuou a ser nossa senhora;
senhora de todos nós.

António Morgado
Ainda o dia dorme em sono de menino;
Ingénuo, terno, frágil;

Já calhaus tropeçam sobre botas arrastadas e gastas.
Homens como extensões de enxadas penteando encostas,
Mulheres com cabeças feitas de cestas serpenteando os trilhos.

Mais abaixo, muito mais; sobre um lençol mais esticado;
A planície perde-se de vista.

Troca-se o granito por torrões de terra.
Homens cortados na cintura pelas espigas,
Mulheres mergulhando incessantemente aqui e ali.

O vento sopra sobre os campos
E faz soar uma onda que beija suavemente a areia;
Sente-se os dedos a escorrer da cama.

Acordai!
Não matem os meus pastores, os lavradores, pescadores,
Não ignorem os Homens de cara queimada,
Não lhes roubem a sua grande riqueza; o seu sorriso sincero.

António Morgado

sexta-feira, setembro 29, 2006

Manual de um tolo

I

Tem dias, que para não dizer ou fazer algo;
há que morder os lábios, mastigar a língua,
amputar dedos, mãos, braços;
abrir nova sepultura
enterrar tudo cá dentro;
há dias condenados ao silêncio.

II

Chegada a hora de trancar portas,
fechar janelas,
quebrar todos os espelhos e vidros,
apagar luzes e outras tantas esperanças;
tornar-se o ponto mais escuro da escuridão.

III

De repente arrombam-se as portas,
estilhaçam-se janelas,
rasga-se a roupa e saio para a rua nu;
então grito, berro estridentemente,
choro, soluço e morro feliz dobrado sobre mim.

António Morgado

quinta-feira, setembro 21, 2006

Amor Carnal

Apesar dos olhares,
Das bocas onde os silêncios se calam
E tudo é seu,
Amordaçavam o desejo, mordiam os lábios;
Dois enormes couraçados contra novas ilusões.

E se fossem apenas carne?

Devorar-se-iam
Um ao outro eternamente,
Vertendo-se mutuamente;

Pés, peito, pele,
Coxas, línguas, sexos;
Carne sobre carne.

Até ao dia em que alguém
Já cheio de indiferença,
Os resolve-se punir e premiar;
Lhes colocaria um espeto
E acabariam expostos na vitrina
De um talho qualquer.

António Morgado
Lua e Flor

Eu amava como amava algum cantor
De qualquer cliché de cabaré de lua e flor
Eu sonhava como a feia na vitrine
Como carta que se assina em vão
Eu amava como amava um sonhador
Sem saber porque que amava ter no coração
A certeza ventilada de poesia
De que o dia amanhece não
Eu amava como amava um pescador
Que se encanta mais com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia se soubesse
Como te encontrar

Oswaldo Montenegro
POEMA 7

Inclinado en las tardes tiro mis tristes redes
a tus ojos oceánicos.

Allí se estira y arde en la más alta hoguera
mi soledad que da vueltas los brazos como un náufrago.

Hago rojas señales sobre tus ojos ausentes
que olean como el mar a la orilla de un faro.

Sólo guardas tinieblas, hembra distante y mía,
de tu mirada emerge a veces la costa del espanto.

Inclinado en las tardes echo mis tristes redes
a ese mar que sacude tus ojos oceánicos.

Los pájaros nocturnos picotean las primeras estrellas
que centellean como mi alma cuando te amo.

Galopa la noche en su yegua sombría
desparramando espigas azules sobre el campo.

Pablo Neruda
This Is a Photograph of Me

It was taken some time ago.
At first it seems to be
a smeared
print: blurred lines and grey flecks
blended with the paper;

then, as you scan
it, you see in the left-hand corner
a thing that is like a branch: part of a tree
(balsam or spruce) emerging
and, to the right, halfway up
what ought to be a gentle
slope, a small frame house.

In the background there is a lake,
and beyond that, some low hills.

(The photograph was taken
the day after I drowned.

I am in the lake, in the center
of the picture, just under the surface.

It is difficult to say where
precisely, or to say
how large or small I am:
the effect of water
on light is a distortion

but if you look long enough,
eventually
you will be able to see me.)

Margaret Atwood